segunda-feira, setembro 19, 2011

“SUPOSITÓRIO AQUÁTICO” GOELA ABAIXO

Nem a festa, nem o testemunho de ministros e autoridades são suficientes para que nos conformemos com a autorização da execução da obra (900 dias) para a construção do “maior aquário de água doce do mundo”. Divulgou-se que sairá do tesouro estadual, declaradamente, R$90.000.000,00 para a edificação do projeto, com 6,6 milhões de litros de água doce, 263 espécies e 7 mil animais. Informações revelam, ainda, que a empresa vencedora apresentou proposta de R$ 84.749.754,23 sobre o orçamento inicial, dando um descontinho de seis milhões, duzentos e sessenta mil, trezentos e quarenta e seis reais e setenta e sete centavos. A encomenda deverá ser entregue no 36º aniversário de criação do Estado em 2013, coincidentemente, ao término do mandato da autoridade que a gestou e quer pari-la.
O requintado e estranho “supositório aquático” ocupará 18.636 metros quadrados dos 119 hectares do Parque das Nações Indígenas, também aqui, o maior parque urbano do mundo! Ao contrário do que pensam seus idealizadores, será um ultraje ao turismo sul-mato-grossense. Não nos orgulha e não catapultará Campo Grande no cenário mundial, porque a nossa verdade socioambiental, vez ou outra, é revelada na mídia nacional e internacional, sintomatizando a falência administrativa do nosso Estado. São os safaris pantaneiros, as pescas predatórias, os corredores do tráfico de drogas e de animais silvestres, os contrabandos, as invasões de terras produtivas e as ocupações de terras indígenas.
A construção do “maior aquário de água doce do mundo” não nos orgulha, porque, o mesmo governo, que vai destinar recursos próprios para a obra, destacou-se como um dos cinco (Estados) que brigou na justiça para não pagar o salário-base dos seus professores, agora, garantido pelo Supremo Tribunal Federal. Porque falta aos nossos conterrâneos um atendimento médico básico e digno na área da saúde - os corredores dos nossos hospitais assim o atestam. Não nos orgulhamos disso, porque nossas mais tradicionais escolas estaduais (Lúcia Martins Coelho e Joaquim Murtinho) revelaram um índice de avaliação no IDEB, de 2,5 e 3,7 respectivamente - o nível mínimo para se considerar uma educação de qualidade é de 6.0. Não, nos orgulhamos, porque nossos jovens morrem como moscas no trânsito e em briga de gangues, inserindo Mato Grosso do Sul na estatística de uma das capitais com aumento gradativo do nível de violência.
O projeto do “maior-aquário-de-água-doce-do
-mundo”, que infla o ego de seus idealizadores, megalômanos, é, antes de tudo, um absurdo. Os recursos a ele destinados construiriam um conjunto habitacional do tamanho de uma “moreninha”, ou um hospital com 250 leitos, por exemplo. O projeto é inviável, inadequado e, sobretudo, agride os mais elementares princípios arquitetônicos, ao importar e viabilizar um projeto de um profissional que, se por aqui passou, foi pelos ares, de avião, estranho a nossa cultura.
O “supositório aquático” é um acinte à capacidade profissional da arquitetura sul-mato-grossense e vilipendia todos os profissionais e todos os órgãos vinculados à arquitetura do nosso Estado. Além de tudo, retrata o desmantelamento do ramo empresarial na área da construção civil do Estado e o desrespeito à categoria e ao ensino de arquitetura de Mato Grosso do Sul. É tão sofisticado que não poderá contar com mão-de-obra local para executá-lo; ela também será importada.
O “maior” aquário de água doce do mundo, aqui em Campo Grande, é injustificável e desnecessário, sobretudo, porque - se concretizado – destruirá a capacidade turística de nossas cidades circunvizinhas, cuja localização, a pouco menos de 3 horas de estrada, disponibiliza o mais belo e requintado ecossistema do mundo. Lugares esses, onde - seja para atender objetivos turísticos, ou de pesquisa – se pode, não, apenas, contemplar, mas, mergulhar em um riquíssimo ambiente aquático e desfrutar de toda sua biodiversidade. Tudo isso, nas mais límpidas e cristalinas águas do planeta, em cidades, essas sim, com potencial turístico genuíno e em vias de naufragar de vez se o devaneio de agora se concretizar. Para nós, aí está mais uma vez, dinheiro público jogado fora.


MARIA ANGELA COELHO MIRAULT – doutora e mestre em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo; CELSO COSTA – arquiteto com 5 milhões de metros quadrados de obras construídas, galardoado pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, um dos cem Conselheiro de Minerva da UFRJ e ANDRÉ COSTA – arquiteto e empresário.

Um comentário:

  1. Não concordo plenamente com o que foi dito!
    Realmente poderiam ter pensado em materiais locais, um "arquiteto" local que conhecesse o LOCAL! Tudo bem que nossa é o Ruy Othake, mas e os "de Camillo" que estão nessa cidade há anos? Afinal eles conhecem Campo Grande o suficiente para projetar algo com a cara daqui. Pode até ser que muitos materiais tenham que ser importados por terem uma maior precisão e durabilidade, mas não poderia ser menos itens? Quanto a mão de obra, não é 100% dela que será importada, aqui estão generalizando, claro que alguns materiais por não serem fabricados no Brasil, exige então que um conhecedor mais experiente conduza o manuzeio, mas eu disse "conduza".
    Dizer que não nos orgulhamos, bom aí é demais. Mesmo havendo coisas das quais poderiam ser diferentes, essa obra dará um "UP" no financeiro de Mato Grosso do Sul.
    Pode ser que o governo estejam desviando dinheiro agora, mas desviar 10 para após ganhar 100 e aproximadamente a cada ano é bem melhor não acham? Acredito que por agora não há muita coisa a fazer, afinal o povo tem que querer ser ajudado, mas nem todos esses alunos dessas escolas pensam em ajuda, aliás quanto a essas escolas, bom, tradicionais?
    Ao meu ponto de vista essas escolas por estarem entre as melhores durante muito tempo, relaxaram, fazendo com que outras se tornassem novamente (ou não) as "tradicionais" como Hércules Maymone, Maria Constança Barros machado, etc.
    Eu me orgulho do maior-aquário-de-água-doce-do mundo ser aqui! Penso que os Objetivos podem ser diretamente Turísticos, mas indiretamente Local!

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